sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O REALMENTE SABEMOS SOBRE O VODU? (parte 1)


Poucos assuntos já foram tão explorados, seja em filmes, músicas, livros, histórias em quadrinhos, ou qualquer outro tipo de mídia que se possa imaginar, quanto o vodu. De mesma forma, nunca tanta besteira já foi escrita e falada sobre um tema como tem sido feito com o Vodu.
Danado com essa injustiça, o velho Capitão Smedley vai tentar deixar o assunto mais claro para seus bons marujos e passageiros.


Primeiramente, Vodu é uma religião, tão bem estabelecida e organizada quanto qualquer outra religião que conhecemos. É sabido que desde de o século XVI, quando os europeus tiveram os primeiros contatos com o Vodu, lá em Benin (antigamente chamado Daomé), na costa noroeste da África, ele já era uma religião complexa e altamente organizada, sendo assim bem possível que tenha surgido muitos e muitos séculos antes.


 Agora, por que podemos dizer que o Vodu é uma religião? Porque ele apresenta todas as características que as demais religiões apresentam: rituais, dogmas, divindades, batismo, iniciação, sacerdócio e graus de sacerdócio. Se elaborássemos um quadro comparativo colocando o Vodu lado a lado com qualquer religião – Cristianismo, Budismo, Islamismo, etc – teríamos que todos os elementos seriam igualmente preenchidos.
A palavra Vodu significa espírito, pois se acredita que tudo que existe na natureza possui um espírito e, assim, a religião basicamente consiste em equilibrar os espíritos das pessoas, dos praticantes, com as forças da natureza. A força major da natureza, segundo o Vodu, é Mawa Lisa, mas há diversas outras divindades, as quais diferem em relação ao Vodu original praticado em Benin e o Vodu praticado nas Américas. 
Assim como em outras religiões, há uma iniciação no Vodu, um batismo. No Haiti, onde o Vodu é realmente a principal religião, essa iniciação é realizada no rio Sucry.
          

Uma pessoa inicia-se no Vodu como praticante e vai aprendendo cada vez mais até, possivelmente chagar ao nível de sacerdote ou sacerdotisa (conhecidos como Papas e Mamas), mas mesmo assim o aprendizado nunca termina.
Uma coisa interessante sobre o Vodu, notada por alguns marujos que viram rituais é que havia muitas imagens de santos Católicos juntamente com estatuário de divindades Africanas. Isso se deve ao mesmo fato que ocorreu com as religiões Afro-Brasileiras, quando os africanos foram trazidos como escravos para as Américas eles foram proibidos de cultuar seus deuses originais, então como as religiões da África são muitos ‘’visuais’’ (ele precisam ter ‘’alguém’’, algo visível a quem se dirigir) eles adotaram os santos Católicos em substituição.
Mas então o Vodu não é usado para o mal? Pode ser! E já foi muito usado com propósitos maléficos, especialmente no Haiti durante a ditadura de François Duvalier, que governou o país de 1971 até 1986. Duvalier ficou conhecido como Papa Doc (Papa, como vimos é título usado pelos mestres, pelos sacerdotes do Vodu; Doc porque Duvalier era médico) usou a crença do povo haitiano no Vodu para instaurar um governo de terror baseado no poder da religião e na brutalidade de sua guarda pessoal, os temidos Tontons Macoutes.
As pessoas acreditavam que Papa Doc podia transformá-las em zumbis. E na verdade, ele podia mesmo! É que valendo-se de seus conhecimentos médicos e também de Vodu, Papa Doc aprimorou um poderoso alucinógeno conhecido pepino de zumbi, há muito já conhecido no Haiti.


O pepino de zumbi (que na verdade é mais como uma vagem do que um pepino) possui fortes alcalóides que podem baixar todas as funções vitais a um mínimo possível sem matar a pessoa que o ingeriu. Quase tudo na pessoa fica imperceptível: batimentos, pulso, respiração. É como se a pessoa estivesse mesmo morta.
Depois de um tempo a pessoa volta do ‘’transe’’, mas já está viciada na substância e com suas funções cerebrais totalmente comprometida. Os antigos donos de terras do Haiti costumavam alimentar seus escravos com esse vegetal para que eles trabalhassem horas fio sem parar para comer, beber água ou reclamar.


Um truque muito usado por Duvalier para inspirar terror na população era fazer uma pessoa que tivesse se oposto ao seu governo ingerir a substância, ser dada como morta e enterrada, dias depois a ela era vista sendo retirada do túmulo a andando novamente, agora servindo ao ditador. Surgiram daí as histórias de zumbis tão exploradas nos filmes de terror B. É claro que os zumbís não andam por aí caindo aos pedaços e comendo cérebros!   


Agora está na hora de procurarmos um porto seguro para descansarmos. Na próxima semana continuarei a contar mais sobre o Vodu e falarei sobre os tão temidos bonecos, as poções e elixires, os patois, as diferenças entre o Vodu praticado na África  e nas Ámericas e o Hodu.
Até lá. Fiquem em paz e boa sorte.  






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